4. EVANGELISMO
INTRODUÇÃO
Vamos abordar aqui o último dos quatro pilares da arte elaborados pela Pra. Adriana Pinheiro Diogo (2011): o evangelismo.
Muito se fala da arte como isca, como estratégia de evangelismo. E por muitos anos, essa foi a forma como o Brasil (e outros países) encararam a utilidade das artes na igreja. Ela não servia para estar nos momentos de culto, não era uma forma de adorar a Deus como a música e o canto, mas sim, uma ferramenta a ser usada conforme a programação da igreja para pregar o Evangelho aos não cristãos.
Essa é sim uma das possibilidades da arte no contexto cristão, contudo, ao abordar os pilares da adoração e do ensino, já ficou claro que reduzir a arte a uma função evangelística é pensar pequeno, é rejeitar a grandiosidade do dom criativo que Deus colocou em nós. Porém, há mais considerações que precisam ser feitas.
QUEM EVANGELIZA?
Um dos grandes equívocos dos cristãos é pensar que nós somos os responsáveis por quem aceita ou não a Jesus. Muitos focam suas forças em descobrir e desenvolver técnicas de evangelismo mais eficazes, deixando de considerar que fazer uma pessoa aceitar ou não o Salvador é uma tarefa do Espírito Santo:
Mas eu lhes afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado, porque os homens não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e vocês não me verão mais; e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado (João 16:7-11 – NAA).
Mesmo o mais elaborado apelo, não é nada comparado a ação do Espírito Santo. Foi Ele quem agiu em Atos 2 e gerou a conversão de quase 3 mil pessoas (Atos 2:41). Pedro foi apenas o canal usado para esse evangelismo sensacional, mas o fator definitivo foi o Espírito Santo derramado e agindo nos corações dos ouvintes.
Jesus já havia instruído os discípulos sobre isso:
Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra (Atos 1:8 – NAA).
Primeiro deveria vir o poder do Espírito Santo, e somente aí eles seriam testemunhas, cumprindo o “ide”.
É certo que não devemos deixar de pregar o Evangelho, nem pensar que as estratégias que elaboramos são infrutíferas. Deus escolheu nos colocar como participantes do processo. Segundo Grudem (2017, p.727) “essa obra evangelística de declarar o evangelho é o ministério principal da igreja com relação ao mundo”, ou seja, nós devemos ser luz e revelar a luz de Deus aos perdidos.
Rookmaaker (2018), ao interpretar o texto de 1 Coríntios 12, nos lembra que apenas alguns são chamados especificamente ao evangelismo, não todos. Isso faz parte da diversidade do corpo de Cristo, das múltiplas funções dentro da igreja, sendo uma delas, o evangelismo. Nas palavras do autor:
Os que têm esse chamado, estão bem cientes de que o têm. Ninguém mais pode determinar isso em seu lugar. Eles mesmos têm certeza de que Deus lhes reservou uma tarefa nessa área (ROOKMAAKER, 2018, p.169).
Nesse sentido, o teólogo defende que nem toda a arte realizada por cristãos deve ser um meio para um fim, ou seja, nem toda a arte precisa ter o propósito de evangelizar. Ele nos lembra que o propósito da vida cristã é a busca do Reino de Deus, e nós, como cristãos, devemos dar glória a Deus e revelar o Seu Reino em todas as áreas da nossa vida, inclusive em nossa arte. Qual é a melhor forma de fazer isso? Revelando o fruto do Espírito (ROOKMAAKER, 2010).
Debaixo deste entendimento, Rookmaaker (2018) discute ainda qual é a necessidade de uma grande ênfase na evangelização. O autor se baseia nas cartas dos apóstolos que carregam grande número de exortações sobre levar uma vida santa, sobre dar frutos no poder do Espírito, mas que não registram ordens para um grande envolvimento em movimentos como os vistos na atualidade de evangelização.
O fundamento do Evangelho é amar a Deus e ao próximo (Mateus 22:36-40). Este sim é um chamado para todos e revela a verdade de Deus em nós. Uma arte de qualidade, realizada por um cristão verdadeiro, poderá gerar frutos reais e conversões verdadeiras, não pela qualidade das suas estratégias artísticas e de oratória para um bom apelo, mas sim, pelo Espírito Santo que se manifesta por meio do artista cristão.
EVANGELIZAR É PRIMEIRO SER
Aqui esbarramos no pilar da Restauração: mais do que falar sobre Jesus, precisamos revelar Jesus para este mundo sombrio. Precisamos ser cristãos.
Para Rookmaaker (2018), a tarefa do cristão frente ao mundo é preservá-lo, como o sal que preserva o alimento de se estragar. Por isso, devemos cotidianamente demonstrar o que significa ser um filho de Deus:
Longe de retirarem-se para um tipo de subcultura cristã, entregando o mundo ao mal, os cristãos não só podem como devem tomar parte nas atividades do mundo. Isso pode até ser chamado de pré-evangelismo; é na verdade, a única maneira para que o próprio evangelismo seja realmente frutífero. Quer dizer fazer nosso trabalho com zelo e honestidade, com excelência quando possível, nunca trapacear, nunca deixar que os fins justifiquem os meios, sempre ser responsável e digno de confiança (ROOKMAAKER, 2018, p.35).
Evangelizar, no sentido mais puro da palavra, é proclamar as boas novas. Essa boa nova não deve ser apenas dita, mas sim, revelada! Jesus veio a terra para revelar ao Pai:
Filipe disse a Jesus: — Senhor, mostre-nos o Pai, e isso nos basta. Jesus respondeu: — Há tanto tempo estou com vocês, Filipe, e você ainda não me conhece? Quem vê a mim vê o Pai. Como é que você diz: “Mostre-nos o Pai”? (João 14:8,9 – NAA).
Da mesma forma nós, enquanto cristãos, precisamos revelar a Jesus. E é isso que os não cristãos necessitam:
A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados (Romanos 8:19 – NVI).
DE QUE SERVE ENTÃO O PILAR DO EVANGELISMO?
Quando pensamos na arte como uma estratégia de Evangelismo, devemos colocar esta estratégia para o foco correto: quando estamos em praça pública e começamos a cantar, a dançar, a interpretar… as pessoas param para nos ver. A primeira coisa que verão será a qualidade do trabalho, a estética da arte que lhes é apresentada.
Nesse nível, uma boa arte faz toda a diferença, pois ninguém pára a fim de admirar algo que não lhe encante, que não chame a sua atenção. A qualidade técnica, a estrutura, o som, tudo contribui para a “isca”, para este processo de capturar a atenção dos ouvintes não cristãos para a mensagem que será transmitida.
No momento em que ganhamos a atenção do público, junto a nossa arte, eles passam a olhar para nós. É neste momento que o principal ocorre: os não cristãos têm a oportunidade de enxergar o Espírito Santo, a luz de Deus, materializada em nossas vidas.
Não é pela linda “música cristã”, não é pela representação da crucificação de Cristo, ou pelo forte apelo feito no final. Todas as coisas contribuem, mas o principal é: o amor de Deus precisa ser palpável, a nova vida que os não cristãos precisam receber deve encher os olhos e o coração deles. Esta é a mensagem.
Se tudo isso ocorreu, quando se apresenta o Evangelho, o coração dos não cristãos já foi tocado, o Espírito Santo já iniciou a Sua obra, e cabe a nós abraçar os que O aceitam. Este é o apelo: venham caminhar conosco e lhes ensinaremos como ser discípulo de Jesus, a guardar todas as coisas que Ele nos ensinou (Mateus 28:19,20).
REFERÊNCIAS
DIOGO, Adriana P. Adoração Criativa – Manual para formação de grupos de dança e teatro. Goiânia: Vinha, 2011.
GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. 2. ed. 4. reimp. São Paulo: Vida Nova, 2017.
ROOKMAAKER, H. R. A arte não precisa de justificativa. Viçosa, MG: Ultimato, 2010.
_________________. O Dom Criativo. Brasília, DF:Monergismo, 2018.