1. ADORAÇÃO

INTRODUÇÃO

          A ideia da arte no contexto cristão como estruturada sobre quatro pilares foi elaborada pela Pra. Adriana Pinheiro Diogo, diretora da Cia Rhema – GO e fundadora da Rede Global de Artes (REGAR). Os quatro pilares são: adoração, evangelismo, ensino e restauração (DIOGO, 2011).

          Neste post, vamos discutir o primeiro pilar: ADORAÇÃO.

DEFININDO ADORAÇÃO

          O termo adoração, de modo abrangente, se refere a tudo o que fazemos em nossa vida:

Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai (Colossenses 3:17 – NAA).

Portanto, se vocês comem, ou bebem ou fazem qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus (1 Coríntios 10:31 – NAA).

         

         É certo que fomos criados para a glória de Deus (Salmos 8:5; Efésios 1:12). Somos feitos à imagem e semelhança da Trindade (Gênesis 1:27), povo escolhido por Ele (1 Pedro 2:9), embaixadores do Seu Reino (2 Coríntios 5:20).

         Assim como a nossa existência, as nossas escolhas e ações glorificam a Deus, pois Ele nos manda ser santos como Ele é Santo (Levítico 11:45), e o próprio Criador planejou boas ações para que andássemos nelas (Efésios 2:10). Isso é adoração: uma vida dedicada a Deus e estruturada sobre os Seus princípios.

         De modo específico, a adoração também pode ser definida como um momento separado e direcionado ao nosso relacionamento com Deus. É uma atitude profunda em nosso coração:

Quando Moisés entrava na tenda, descia a coluna de nuvem e punha-se à porta da tenda; e o Senhor falava com Moisés. Todo o povo via a coluna de nuvem que se detinha à porta da tenda; todo o povo se levantava, e cada um, à porta da sua tenda, adorava o Senhor (Êxodo 33:9,10 – NAA).

Que a palavra de Cristo habite ricamente em vocês. Instruam e aconselhem-se mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão no coração  (Colossenses 3:16 – NAA).

         A gratidão no coração do cristão que louva a Deus é o reconhecimento da soberania de Deus, de tudo o que Ele fez, faz e fará por cada um de nós. Esse é o sentido de louvor, é algo que toca os nossos corações ao ponto de transbordar em palavras e gestos o que estamos sentido sobre Deus.

         Diogo (2011) identifica as palavras mais usadas para descrever o ato específico de adoração na Bíblia:

No Velho Testamento: Shachah, que significa curvar-se, prostrar-se ou proceder humildemente.

No Novo Testamento: Proskeneo, que significa prostrar-se, encurvar-se para adorar.

          Ambos são ações, movimentos corporais derivados de um sentimento, uma necessidade interna, de um impulso (como diria LABAN, 1978).

         Quando reconhecemos quem somos e quem Deus é, não há outra ação possível se não nos prostrar em adoração, em reverência. Quando entendemos o amor que Ele tem por nós e que não podemos merecer esse amor, a reverência se soma a alegria da salvação, deste grande presente que ganhamos, e se manifesta em louvor, em engrandecer ao nome do Senhor.

         Por isso, louvar ao Senhor (adoração em seu sentido específico) é também um mandamento, não apenas presente nos quatro primeiros mandamentos da Lei de Moisés (Êxodo 20:1-11), mas também em Deuteronômio:

Temam o Senhor, o seu Deus, e só a ele prestem culto, e jurem somente pelo seu nome (Deuteronômio 6:13 – NVI)

         Este foi o exato texto citado por Jesus contra a segunda tentação de Satanás no deserto, quando este ofereceu ao Messias todos os reinos do mundo em troca de adorá-lo (Lucas 4:5-8).

         O imperativo de louvar a Deus, de render graças ao Seu nome, também é fortemente presente no livro de Salmos:

Deem graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre (Salmos 136:1 – NAA)

Louvem o Senhor, todos os gentios; que todos os povos o louvem! Porque grande é a sua misericórdia para conosco, e a fidelidade do Senhor dura para sempre. Aleluia! (Salmos 117:1, 2 – NAA)

Aleluia! Bom e amável é cantar louvores ao nosso Deus; fica-lhe bem o cântico de louvor (Salmos 147:1 – NAA).

Todo ser que respira louve o Senhor. Aleluia! (Salmos 150:6 – NAA).

A ADORAÇÃO CRIATIVA E A ARTE COMO FORMA DE CULTO

         Ao introduzir seu livro, a Pra. Adriana Pinheiro Diogo define adoração criativa como “adorar a Deus com a criatividade que Ele nos deu, movidos e inspirados pelo Seu Espírito Santo” (DIOGO 2011, p.19). Este tipo de adoração é caracterizado por utilizar as mais diversas artes para adorar a Deus.

          Diogo (2011) destaca que os artistas relatados na Bíblia são levitas e sacerdotes, ou seja, eles utilizavam a sua arte como forma de culto. Certamente nem todos os artistas dos tempos bíblicos eram cristãos ou faziam obras de arte exclusivamente de cunho religioso, mas pensar na arte como forma de culto nos lembra que toda a arte é feita para reverenciar e exaltar alguém.

         É exatamente esse conceito que Torres (2007, p.29) destaca em sua pesquisa:

toda arte transcende e na dança sempre há uma transcendência, mesmo que o bailarino não saiba, mesmo que a dança não seja uma liturgia, mesmo que a transcendência não se faça em direção a uma determinada doutrina, mesmo que sem uma intenção direta de se relacionar com o sagrado, todo tipo de dança é direcionado a uma divindade, e quem a dança se relaciona com ela.

          Bezalel é exemplo deste direcionamento e transcendência, pois recebeu de Deus toda a orientação de como deveria fazer a obra de arte que lhe fora encomendada: o Tabernáculo de Moisés (Êxodo 36:1). Moisés foi canal para as especificações da construção, para a estrutura arquitetônica (Êxodo 25:40), enquanto que a capacitação para as questões técnicas foi dada por Deus a Bezalel (Êxodo 35:30-35).

          Isso não significa que cada obra de arte que eu realizar deve ser feita sob orientações descritivas recebidas da parte de Deus por revelação, sonho ou visão, nem que minha arte será uma adoração criativa apenas quando eu a fizer durante um culto ou para servir a minha igreja. Mas, se toda arte é culto, para fazer da arte que produzimos um culto de louvor e adoração a Deus, precisamos de um direcionamento, um embasamento que já nos foi revelado: a Bíblia. Nela encontramos os princípios pelos quais nossa arte, assim como tudo em nossa vida, deve ser feita/vivida.

          A Bíblia é clara em dizer que existem apenas dois senhores, e não podemos servir a ambos (Mateus 6:24). Quando foi acusado de trabalhar com os demônios para expulsá-los das pessoas, Jesus respondeu: “— Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (Mateus 12:30 – NAA). Da mesma forma, o Messias nos disse que temos apenas duas opções a seguir, um caminho largo que conduz à perdição, e um caminho estreito que conduz à vida (Mateus 7:13-14).

          Portanto, se toda arte é uma forma de culto, se toda a minha produção se direciona a uma divindade, preciso usar a minha arte para adorar a Deus, para cumprir o mandamento de louvar ao Seu nome. Mas como diferenciar uma arte que adora a Deus da outra que não?

COMO DEFINIR UMA ARTE CRISTÃ?

         Adorar a Deus com nossa arte não significa simplesmente dançar e cantar músicas cristãs, pintar quadros sobre passagens bíblicas ou recriar as receitas bíblicas.

         Utilizar a arte para adorar ao Senhor significa que a arte passa a ser realizada sob os princípios cristãos, ou seja, os princípios que Ele deixou para nós. Logo, se algo (seja dança, teatro, música, escrita, pintura, fotografia, etc) é feito conforme a vontade de Deus, é feito para adorá-Lo.

          Rookmaaker (2018) é bastante claro ao expor esta verdade. Para o teólogo, a arte deve ser feita dentro da estrutura cristã, submetida aos mesmos princípios que todo cristão tem para viver e que estão plenamente estabelecidos para nós na Bíblia. Em suas palavras:

Ser um artista cristão significa que o indivíduo é chamado para utilizar seus talentos para a glória de Deus, como ato de amor a ele e serviço amoroso ao próximo (ROOKMAAKER, 2010, p.40).

         Paulo nos deixa um claro direcionamento sobre isso:

Portanto, irmãos, pelas misericórdias de Deus, peço que ofereçam o seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Este é o culto racional de vocês. E não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12:1, 2 – NAA)

         Um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, ou seja, uma adoração verdadeira, é fruto de uma pessoa que foi transformada, que saiu dos padrões deste mundo e teve a sua mente e sua prática de vida renovadas nos padrões celestiais. Somente a partir desta transformação, que pode ser identificada como o novo nascimento em Cristo Jesus, é que podemos começar a produzir uma arte que adora a Deus.

         É neste entendimento que Diogo (2011) define se uma arte é ou não cristã, se ela adora ou não a Deus: através de quem a produz. O artista, no contexto bíblico, dá glórias e honras a Deus. E é o artista quem vai definir no contexto atual quem ele irá cultuar com a sua arte.

         E assim nos direcionamos para o próximo pilar: Restauração.

REFERÊNCIAS

DIOGO, Adriana P. Adoração Criativa – Manual para formação de grupos de dança e teatro. Goiânia: Vinha, 2011.

LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento. São Paulo: Sumus, 1978.

ROOKMAAKER, H. R. A arte não precisa de justificativa. Viçosa, MG: Ultimato, 2010.

_________________. O Dom Criativo. Brasília, DF:Monergismo, 2018.

TORRES, Luciana P. A Dança no Culto Cristão. 2011. 129 f.  Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Departamento de Filosofia e Teologia, Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2001.